Confira os resultados da pesquisa Renascença DTVM/Travessia sobre a Presidência da República em 2022.
Diversos atores políticos de todas as vertentes ideológicas tentam ganhar o coração do brasileiro desde que foi instalada a polarização entre lulismo e bolsonarismo, aparentemente o único que conseguiu até agora foi Sergio Moro.
Sergio Moro após conferência de imprensa em que anunciou sua demissão do governo.
Foto: EVARISTO SA / AFP"
É o que revela a primeira pesquisa Renascença DTVM/Travessia para a Presidência da República em 2022.As reações do brasileiro são marcadas por diferenças regionais muito visíveis que você confere com EXCLUSIVIDADE aqui.
Enquanto o sul do Brasil apóia Sergio Moro, que chega a empatar com Bolsonaro e até ganhar dele em alguns cenários, o Nordeste se torna cada vez mais lulista e o centro-oeste mais bolsonarista.
No Sudeste, há uma divisão, mas Sergio Moro já representa um golpe pesado na representatividade do bolsonarismo. Por que há pesquisas para as eleições de 2022? Porque estamos continuamente em clima eleitoral.
O presidente faz questão inclusive de trazer esse clima a todo momento. Sempre se refere ao processo eleitoral como alguém que venceu a velha política dominada pelo PTxPSDB.
"O problema é que essa vitória foi por 55x45, ou seja, quase metade da população não o escolheu… Isso mantém esse ambiente, que é natural nas maiores democracias do mundo", explica o cientista político Bruno Soller.
No Sul do Brasil, Sergio Moro, que é paranaense, desponta como grande força política em todos os cenários e como o único capaz de fazer frente a Jair Bolsonaro, inclusive numa disputa com nomes fortes como Lula e Ciro Gomes.
Os motivos que levam Sergio Moro a ter tanta força no Sul do Brasil são múltiplos. Curitiba foi a sede da Lava Jato e a região Sul sempre foi a que mais apoiou as investigações. Além disso, há uma enorme diferença educacional e de renda entre o sul e as outras regiões do país, o que leva a uma visão mais crítica do mundo político.
O ex-ministro da Justiça, apesar de ter deixado a magistratura para ser político, é visto como alguém "não-político", perfil preferido por quem tem visão mais crítica.
No Nordeste do país, Lula e o PT continuam imbatíveis em todos os cenários.
O ex-governador do Ceará, Ciro Gomes, também é uma força política importante, mas fica longe de ameaçar o petismo. Sergio Moro aparece dividindo o bolsonarismo, muito atrás de Lula na região, mas impondo uma divisão no pólo oposto.
O cientista político Bruno Soller explica que o nordeste do Brasil têm uma concentração de classes C2 e D, cujo cotidiano depende fortemente do apoio do Estado. Os programas Bolsa Família, Pró-Uni, Pró-Jovem e Minha Casa Minha Vida foram feitos exatamente para este recorte da sociedade e conquistaram apoio sólido e duradouro. No nordeste, o PT vence mesmo nos cenários sem Lula: Fernando Haddad bate Bolsonaro e Moro com folga.
Já no norte e centro-oeste do Brasil, Jair Bolsonaro continua imbatível, apesar de Sergio Moro ter uma fatia importante do eleitorado. O apoio do centro-oeste vem principalmente do agronegócio e o norte do Brasil tem a maior concentração de evangélicos do país, parte importante da base de apoio do presidente da República.
Embora Sergio Moro tenha já a simpatia de uma parte importante do eleitorado tanto do norte quanto do centro-oeste do país, Jair Bolsonaro venceria com folga em qualquer cenário caso as eleições fossem hoje.
Já o Sudeste continua preso na polarização entre Lula e Bolsonaro, com Sergio Moro representando um impacto importante na antiga vantagem bolsonarista. Há cenário inclusive de empate técnico entre Lula e Bolsonaro, marcando essa região do país pela polarização política."
Por que o Sudeste, onde vivem a maioria dos eleitores, tem um comportamento tão polarizado e tão diferente da aparente unanimidade encontrada nas demais regiões do Brasil? Porque ele é feito de migrantes de todas as outras regiões.
O sudeste tem uma característica de ser um mix do Brasil como um todo. De ter mais equilíbrio na distribuição das classes sociais. Desde 2006, a gente vem de uma polarização que se dá muito por classes: classes B1, B2 e C1 votando inicialmente nos tucanos - Alckmin, Serra e Aécio, depois Bolsonaro em 18, e C2 e D votando no lulismo - Lula, Dilma, Dilma e Haddad.
"Se pegarmos Minas e Rio, a gente tem praticamente um mini Brasil na distribuição dessas classes. Por esse comportamento é que mantemos uma certa polarização. Mas a presença de Moro, apesar de um pouco abaixo da média nacional, é bem interessante e não deixa o bolsonarismo surfar com facilidade", analisa o cientista político Bruno Soller.
O sudeste tem 42% do eleitorado do Brasil, o sul tem 15%, o nordeste tem 28% e a união do norte com o centro-oeste tem 15%. Ponderando essas proporções, o cenário nacional é praticamente igual ao verificado no sudeste, uma polarização entre lulismo e bolsonarismo com Sergio Moro dando bastante trabalho a Bolsonaro.
Sobre rejeição, uma curiosidade: Guilherme Boulos supera até Jair Bolsonaro e Lula. Geralmente os mais conhecidos e que já ocuparam cargos públicos tendem a ser os mais rejeitados, é curioso que com uma carreira política que, por enquanto, foi só fazer campanha e por muito menos tempo que todos os demais, tenha conseguido um índice tão alto.
A Travessia Estratégia entrevistou 1503 pessoas por telefone em 29 e 30 de abril, em 115 municípios de todas as regiões do país. A margem de erro da pesquisa é de 3 pontos percentuais, para mais ou para menos.
Via: Portal Gazeta do Povo - Coluna de Madeleine Lacsko - Reflexões sobre princípios e cidadania