Por mais que o calendário político avance e os movimentos de bastidores se intensifiquem, uma incógnita continua pairando sobre o Rio Grande do Norte: por que o vice-governador Walter Alves ainda não anunciou que assumirá o Governo do Estado e disputará a reeleição?
Os números e os apoios colocados sobre a mesa tornam essa hesitação, no mínimo, intrigante.
Walter não é um vice-governador isolado ou sem base. Pelo contrário. Segundo o próprio, ele mantém sob sua articulação direta — como um “bacurau original”, expressão que usa com frequência — o apoio de 41 prefeitos. Caso seja o candidato natural da governadora Fátima Bezerra, esse bloco se ampliaria de forma quase automática: a governadora teria condições de agregar mais cerca de 50 prefeitos à base, formando um arco municipal raro na política potiguar.
No plano estadual, o cenário é ainda mais favorável. O presidente da Assembleia Legislativa, Ezequiel Ferreira, deputado quase decano e operador político experiente, já é tratado como apoio certo. Além disso, Walter conta com a sinalização pública ou reservada de ao menos 12 deputados estaduais, o suficiente para estruturar uma chapa competitiva no MDB e irradiar apoio para outras nominatas aliadas.
Em Brasília, a equação também fecha. Mais da metade da bancada federal do Rio Grande do Norte — entre deputados e senadores — estaria disposta a marchar com Walter, reforçando o palanque nacional e o acesso institucional. Some-se a isso um fator decisivo: a caneta do governo estaria em suas mãos, com a garantia explícita de Fátima Bezerra de apoio irrestrito ao seu projeto eleitoral.
Do ponto de vista estratégico, uma eventual candidatura de Walter teria ainda um efeito colateral poderoso: apagaria o projeto de Allyson Bezerra ao Governo, concentrando a disputa praticamente entre Walter e Rogério Marinho. A direita, já fragmentada, entraria no jogo com feridas expostas e menos capacidade de unificação.
Há ainda o elemento nacional. É sabido nos bastidores que o presidente Lula já chamou Walter para a disputa, garantindo respaldo político e, sobretudo, segurança financeira para a gestão, afastando o fantasma de estrangulamento orçamentário que costuma rondar governos estaduais fora do eixo central de poder.
Os dados eleitorais reforçam esse cenário. O PT e seus aliados elegeram oito dos nove governadores do Nordeste e oito dos nove senadores possíveis na região. A única exceção foi exatamente Rogério Marinho, no Rio Grande do Norte. Ignorar esse peso político regional e nacional parece, para muitos analistas, um erro de cálculo.
Então, qual é o receio? Ou, sendo mais direto: qual é a dúvida de Walter Alves?
Até mesmo dentro de casa o diagnóstico é positivo. Segundo relatos, Garibaldi Alves Filho, um dos políticos mais experientes do Estado, avaliou que o cenário é “pra lá de favorável” para o filho. Não se trata de empolgação juvenil, mas de leitura fria de quem já venceu e perdeu eleições suficientes para reconhecer uma janela rara de oportunidade.
Há, porém, contradições que não podem ser ignoradas. Nos bastidores, cresce a avaliação de que Walter já comprometeu, por inabilidade política, a construção das chapas proporcionais — tanto federal quanto estadual. A indefinição prolongada gerou insegurança, afastou aliados e bagunçou estratégias de quem precisava de previsibilidade.
E surge uma pergunta incômoda, mas inevitável: quem toparia dividir uma nominata com Walter? Um candidato que carrega o sobrenome Alves e que pode herdar, apenas com o capital político do pai, algo em torno de 50 mil votos. Trata-se, na prática, de uma vaga quase garantida — e exatamente por isso indesejada por deputados em reeleição, que não querem disputar espaço com um concorrente tão pesado dentro da mesma chapa.
O paradoxo está posto. Walter Alves reúne prefeitos, deputados, bancada federal, apoio do Governo do Estado, do Governo Federal e de uma das maiores lideranças políticas da história recente do RN. Tem estrutura, tem palanque e teria caneta. Ainda assim, hesita.
Em tempo: enquanto o vice-governador não resolve se atravessa definitivamente a ponte entre o poder herdado e o poder exercido, o tempo segue correndo. E, em política, tempo perdido raramente é recuperado.
Em tempo 2: Tânia Bacurau, baluarte dos “bacuraus” no RN, já aprovou a candidatura. Falta mais nada!
Em tempo 3: falta uma coisa sim: pedir desculpas ao primo Henrique Alves, chamá-lo pra coordenar a sua campanha. Reúne a família, engrossa o palanque e desfaz a maior besteira que Walter cometeu na sua vida pública: brigar com Henrique por besteira.
Em tempo 4: já dizia a musiquinha: “au, au, au…assanharam os bacuraus”!!!
