Articulações políticas em curso nos bastidores de Brasília indicam que o PSOL está negociando com a Federação Brasil da Esperança — atualmente formada por PT, PCdoB e PV — a construção de uma possível federação ampliada com foco nas eleições de 2026. O objetivo central da iniciativa seria fortalecer candidaturas proporcionais, ampliar a competitividade eleitoral e garantir a permanência de pré-candidatos estratégicos em seus partidos de origem, evitando migrações motivadas por dificuldades de viabilidade eleitoral.
Segundo interlocutores envolvidos nas conversas, a articulação vem sendo conduzida politicamente pelo ministro Guilherme Boulos, uma das principais lideranças nacionais do PSOL e figura-chave na interlocução com o governo federal e partidos da base progressista. A atuação de Boulos busca construir uma solução que preserve a identidade programática do PSOL, ao mesmo tempo em que ofereça um arranjo federativo mais robusto para as disputas proporcionais.
Viabilidade eleitoral e permanência partidária
A legislação eleitoral que instituiu as federações partidárias permite que os partidos atuem como um único bloco nas eleições proporcionais, compartilhando votos, recursos e tempo de propaganda, com um compromisso mínimo de quatro anos. Nesse contexto, uma federação ampliada com a Brasil da Esperança é vista como alternativa para reduzir a pulverização do campo progressista e aumentar a densidade eleitoral das chapas de deputado federal.
No Rio Grande do Norte, dirigentes avaliam que uma eventual federação permitiria que a vereadora Thabatta Pimenta dispute uma vaga na Câmara dos Deputados sem precisar deixar o PSOL, fortalecendo o campo progressista no estado e evitando disputas internas entre partidos ideologicamente próximos.
Sinais que reforçam a articulação
A ampliação da Federação Brasil da Esperança vem sendo debatida desde 2024, especialmente após a consolidação do bloco como base de sustentação política do governo federal. Lideranças do PT, PCdoB e PV já manifestaram publicamente a avaliação de que a experiência federativa foi positiva e pode ser expandida para incluir outras legendas do campo progressista.
Além disso, o PSOL enfrenta desafios para viabilizar chapas competitivas em diversos estados, sobretudo diante da cláusula de desempenho e da disputa por fundo eleitoral. Nesse cenário, a costura política liderada por Guilherme Boulos surge como tentativa de conciliar pragmatismo eleitoral com coerência programática, reduzindo tensões internas e ampliando as chances de eleição de bancadas federais.
Resistências e debates internos
Apesar do avanço das conversas, a proposta não é consensual dentro do PSOL. Setores do partido defendem a manutenção da atual federação com a Rede Sustentabilidade ou demonstram resistência a uma aproximação estrutural maior com o PT, lembrando a origem histórica do PSOL como dissidência petista. Ainda assim, cresce entre dirigentes a avaliação de que o atual cenário político exige novos arranjos para garantir a sobrevivência e a expansão parlamentar.
Do lado da Federação Brasil da Esperança, a discussão também envolve ajustes internos, uma vez que a ampliação do bloco exigiria redefinições estratégicas nos estados e maior alinhamento programático entre as legendas.
Cenário em construção
Com a aproximação do calendário eleitoral, a tendência é que as negociações se intensifiquem nos próximos meses. Caso avance, a articulação capitaneada por Guilherme Boulos pode resultar em uma das mais relevantes reconfigurações do campo progressista desde a criação das federações partidárias, com impacto direto na formação das chapas proporcionais e na correlação de forças do Congresso Nacional a partir de 2027.
Embora ainda não exista anúncio oficial, os sinais políticos indicam que a discussão deixou o campo das hipóteses e passou a integrar, de forma concreta, a estratégia eleitoral de parte significativa da esquerda brasileira.
Efeito no RN
No cenário potiguar, a movimentação reduz incertezas. A vereadora Thabatta Pimenta, que chegou a sondar uma eventual entrada na federação por meio do PV, não precisará mais se preocupar com mudanças partidárias forçadas, caso a federação ampliada com o PSOL se confirme.
