Foto: Antônio Cruz/Agência Brasil |
Na política, quando as denúncias começam a pipocar, o estrago é rápido e muitas vezes irreversível. E foi exatamente isso que aconteceu com Silvio Almeida, ex-ministro dos Direitos Humanos e Cidadania. Almeida foi demitido nesta sexta-feira (6) pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva após denúncias de assédio sexual virem à tona, divulgadas pela ONG Me Too Brasil. O impacto? Gigantesco, e o governo não perdeu tempo em cortar as pontas soltas. Até então, Silvio Almeida negava todas as acusações, mas a pressão foi tanta que ficou insustentável para ele permanecer no cargo.
Se você piscou, perdeu a movimentação relâmpago. Após uma conversa no Palácio do Planalto, o presidente Lula decidiu que não havia mais espaço para Almeida. O governo precisava agir rápido – até porque manter um ministro acusado de assédio sexual, especialmente no ministério dos Direitos Humanos, era uma verdadeira contradição com o discurso do Planalto em defesa dos direitos das mulheres. E quando a primeira-dama, Janja, publicou uma foto dando um beijo de apoio na testa de Anielle Franco, uma das supostas vítimas, ficou claro que o destino de Almeida estava selado. Ali, o veredito político já havia sido dado.
Mas por que essa demissão foi tão rápida?
O timing foi tudo. Desde que a notícia saiu, a sensação era de que Almeida estava perdendo apoio a cada minuto. Diversas lideranças femininas e negras do governo começaram a se manifestar publicamente a favor de Anielle Franco, ministra da Igualdade Racial e supostamente uma das vítimas. Se por um lado o ministro tentava resistir, lançando nota e até um vídeo em suas redes sociais afirmando ser vítima de denúncias sem provas, por outro, a pressão aumentava. A ONG Me Too Brasil já havia confirmado que possuía o consentimento das vítimas para expor as denúncias, embora tenha preservado suas identidades. Foi o suficiente para dar início à tempestade.
O governo tinha escolha?
Lula já tinha dado sinais claros em Goiânia, mais cedo na sexta-feira, de que a situação era insustentável. O presidente declarou que “alguém que pratica assédio não vai continuar no governo”, mas que era preciso garantir a Silvio Almeida o direito de se defender. Essa foi a deixa: ele já havia entendido que manter Almeida seria um tiro no pé. E com a pressão de Janja, Cida Gonçalves (ministra das Mulheres) e outros aliados crescendo, a decisão foi rápida.
E as vítimas?
O nome de Anielle Franco está no centro das especulações, mas até agora ela não fez nenhuma declaração pública sobre o caso. No entanto, a imagem da primeira-dama e de outras figuras importantes do governo demonstrando apoio a ela já fala por si. O silêncio de Anielle, por enquanto, ecoa o cuidado em lidar com uma situação extremamente delicada, enquanto as denúncias ainda precisam de apuração completa.
O peso das redes e da opinião pública
Hoje, qualquer escândalo político vai muito além dos corredores de Brasília. Ele rapidamente explode nas redes sociais, e foi o que aconteceu aqui. Assim que a história veio à tona, perfis de grandes lideranças começaram a se manifestar, incluindo o senador Paulo Paim e a Coalizão Negra por Direitos, que declarou solidariedade a Anielle Franco e todas as mulheres vítimas de violência. Esses apoios públicos foram cruciais para definir a queda de Almeida. Num governo que se orgulha de defender os direitos humanos e as causas femininas, não havia como sustentar um ministro sob essas acusações.
O que vem depois?
Agora, a bola está com a Polícia Federal, que já abriu um inquérito para investigar as denúncias. A Comissão de Ética Pública da Presidência também começou uma apuração preliminar, e Almeida terá 10 dias para apresentar sua defesa. A pergunta que fica é: será que ele conseguirá se reerguer politicamente depois desse episódio? Independente do que aconteça na justiça, sua reputação sofreu um golpe duríssimo, e a sombra dessas denúncias vai persegui-lo por muito tempo.
Para o governo Lula, o recado é claro: não haverá tolerância com casos de assédio, principalmente em tempos de pressão por uma gestão mais transparente e em defesa das mulheres. A demissão de Almeida serve de exemplo para que o governo se alinhe cada vez mais com os valores que prometeu defender. Agora, é esperar para ver como as investigações se desenrolam e qual será o próximo passo tanto para Almeida quanto para as vítimas.